quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O impossível distanciamento ou desapego ( en portugais)


O desapego impossível
 http://www.youtube.com/watch?v=XlI4VYv8I4A

 http://www.allocine.fr/video/player_gen_cmedia=19281885&cfilm=193427.html

Olá, meus queridos e grandes amigos! Acabo de ver um filme muito bom aqui em casa ... mas americano...Em inglês, Detachment, em português O substituto.
Observem bem que em francês, détachement (desapego) pode ser uma maneira de ver as coisas com distanciamento, sem cair em qualquer tipo de sentimentalismo, podemos falar de um certo tipo de frieza, a rigidez, mas também a situação de um funcionário designado para outro serviço temporariamente. Os dois sentidos estão de acordo com o título.
O título em português é pobre. Sim, muito pobre. Vocês vão me entender. Vou explicar. O personagem de  Adrien Brody (excelente, depois do filme O pianista, ele está em seu melhor papel), chamado Henry Barthes (certamente um tributo a Roland Barthes, mestre dos mestres) um professor substituto que não consegue aceitar por razões emocionais o posto de professor titular. É um professor muito bom, mas  tem limitações pessoais.
Ainda estou sob a emoção do filme. Eu o recomendo. É sobre a educação moderna, os problemas, os desafios, a atenção para com os alunos, o respeito, sim o respeito. Esta palavra provém do latim respectus e significa “atenção” ou “consideração”.
O roteiro é baseado em pesquisas sérias, porque quem o escreveu, Carl Lund, é  professor.
Bem, continuemos. Henry Barthes é um professor substituto. Ele foi designado por um mês em uma escola muito difícil nos subúrbios de Nova York. Enquanto tenta sempre manter distância, Barthes vai ver sua vida virar  de cabeça para baixo depois de sua passagem neste estabelecimento.
Não é  uma película leve, é um filme doloroso.
Por quê?
Porque é de nós que fala, da sociedade de hoje, cheia de violência, da sociedade de consumo, da sociedade no limit, da criança-rei abandonada aos seus impulsos mais viscerais, da  civilização ocidental desprovida de toda forma de civilidade básica ... Este filme nos diz claramente, inequivocamente, da imagem da brutalidade contemporânea, uma época infame, ainda falocrática, do consumismo, pornográfica, feia sob muitos aspectos. O desvinculamento, o diostanciamento é o que resta como o último recurso ao professor, que não tem muito a ensinar a seus alunos quase analfabetos, grosseiros, mesmo selvagens, nem aos seus pais. Na verdade, estes últimos realmente abandonaram o mundo institucional, o dever que antes os obrigava a educar e a não abandonar sua prole. Exatamente, é esta a nossa realidade triste e decepcionante de que fala este filme. Os pais, lá como aqui, se eximem do seu dever. As conseqüências estão aí em nossas salas de aula, na rua, na política, em todos os lugares.
Porque a consciência, o conhecimento, a noção  às vezes podem preencher o vazio da existência ... Vocês devem ver este belo filme, tão justo, tão modesto em sua crua honestidade.
Acho que este filme nos afeta a todos. Há  muitas coisas em jogo. Mesmo concordando  com o professor Henry Barthes / Adrien Brody,  tenho certeza que ele poderia fazer melhor. Esta é uma dificuldade que certas  pessoas têm de beijar, de abraçar as pessoas que precisam.  Com certeza não é em todos os casos, não, não. Em outros, você deve ser firme, enérgico, até  inflexível para manter a ordem e o respeito.
Nossa época não valoriza mais a educação, desprezam a autoridade, riem do governo, zombam do formalismo. É difícil ser professor em algumas comunidades.
No entanto, não desista!
Não, de jeito nenhum, por quê?
Porque esta é a nossa missão. Formar, educar, ajudar, escutar, estar atento.
Mas, Angela, e suas famílias? Infelizmente, vejo mais e mais  afastamento, pais que não estão nem aí. Muito triste. Simplesmente, a maioria não sabe o que está acontecendo com seus filhos. Eles se esquecem que  ser pai e mãe é para toda a vida! Dá trabalho ? Dá, é claro. Educar dá trabalho. Mas, que magnífico trabalho ! É para isso que estamos aqui. Quando se está com um filho ou uma filha, conversando, orientando, escutando, vou repetir, escutando, nos sentimos finalmente bem. Nem todas as pessoas deveriam ser pais e mães. Infelizmente é a verdade !! Deveria haver um longo e difícil processo pelo qual as pessoas interessadas deveriam passar para serem finalmente aptas a pôr filhos no mundo. Pensem bem se não tenho razão. Quantas e quantas pessoas conhecemos que não têm NENHUMA qualidade para ser chamado de pai e mãe. E nós, quando observarmos que há um aluno que precisa de uma palavra, de uma escuta atenta, devemos fazê-lo!
É  solitária a vida do prof. É, sim.
Mesmo quando conversamos com os colegas (infelizmente, muito poucos) que pensam como o personagem principal: deve-se como professor fazer a diferença.
E quando isso não acontece, é a frustração completa. É duro demais.
É um filme rico em discussões. Poderíamos ficar aqui por horas falando sobre
-A jovem prostituta,
-A menina que ouve horrores em casa de seu pai e de seus colegas na sala de aula (o professor tenta ajudar, mas faz pouco, ele não pode imaginar sua imensa tristeza. Observem
bem o que lhes digo: a falta que faz um abraço ! Este gesto tão simples e tão expressivo, tão  eloqüente, Barthes rejeita o abraço da menina  por medo, talvez alguém poderia pensar mal se o visse com a pobre menina).
-O professor de música que é invisível, não só na sala de aula (que tortura), é também em casa (tristemente chocante).
- O avô de Barthes é sua única família e morre aos poucos no hospital. Há um segredo muito triste e repugnante, este avô que é realmente seu pai ...ai ai ai ... sua mãe comete suicídio ... a porta do quarto de Henry deve estar sempre fechada à noite ...
O título do filme pode ser explicado de várias maneiras. O primeiro significado, que ele está substituindo, é verdade. No entanto, sabemos que o que o professor quer é não mais estar ligado a alguém na vida, ele não quer um  sentimento mais duradouro. As duas pessoas (mãe e avô ) que ele amava na sua vida o decepcionaram profundamente. Por isso, nunca mais afeto, amizade, amor, apego intimidade, nem sentimento de ternura para com alguém.
Podemos considerar esta atitude de Barthes  egoísta, individualista. Mas acho que não devemos julgar ninguém.
Felizmente, o final nos dá esperança. Graças a Deus.
Este trecho do conto de Edgar Allan Poe, A Queda da Casa Usher, lido por Henry como um exemplo da pressão que se deve suportar todos os dias : "Pendant toute la journée d’automne, journée fuligineuse,
sombre et muette, où les nuages pesaient lourd et bas dans
le ciel, j’avais traversé seul et à cheval une étendue de
pays singulièrement lugubre et, enfin, comme les ombres
du soir approchaient, je me trouvai en vue de la
mélancolique Maison Usher. Je ne sais comment cela se
fit, mais, au premier coup d’oeil que je jetai sur le
bâtiment, un sentiment d’insupportable tristesse pénétra
mon âme. "

Nosso filme começa com esta frase de Albert Camus em O Estrangeiro: «Jamais je n’ai senti, si avant, à la fois mon détachement de moi-même et ma présence au monde »
Como vocês podem ver, quando um filme estrangeiro começa com Camus, você pode vê-lo sabendo que vai ver algo de bom.
Há alegria em compartilhar bons filmes. Especialmente, especialmente compartilhar com vocês, meus amigos!

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