O desapego impossível
http://www.youtube.com/watch?v=XlI4VYv8I4A
http://www.allocine.fr/video/player_gen_cmedia=19281885&cfilm=193427.html
Olá, meus
queridos e grandes amigos! Acabo de ver um filme muito bom aqui em casa ... mas
americano...Em inglês, Detachment,
em português O substituto.
Observem bem
que em francês, détachement (desapego)
pode ser uma maneira de ver as coisas com distanciamento, sem cair em qualquer
tipo de sentimentalismo, podemos falar de um certo tipo de frieza, a rigidez,
mas também a situação de um funcionário designado para outro serviço
temporariamente. Os dois sentidos estão de acordo com o título.
O título em
português é pobre. Sim, muito pobre. Vocês vão me entender. Vou explicar. O
personagem de Adrien Brody (excelente,
depois do filme O pianista, ele está
em seu melhor papel), chamado Henry Barthes (certamente um tributo a Roland
Barthes, mestre dos mestres) um professor substituto que não consegue aceitar por
razões emocionais o posto de professor titular. É um professor muito bom, mas tem limitações pessoais.
Ainda estou
sob a emoção do filme. Eu o recomendo. É sobre a educação moderna, os
problemas, os desafios, a atenção para com os alunos, o respeito, sim o
respeito. Esta palavra provém do latim respectus
e significa “atenção” ou “consideração”.
O roteiro é
baseado em pesquisas sérias, porque quem o escreveu, Carl Lund, é professor.
Bem,
continuemos. Henry Barthes é um professor substituto. Ele foi designado por um
mês em uma escola muito difícil nos subúrbios de Nova York. Enquanto tenta
sempre manter distância, Barthes vai ver sua vida virar de cabeça para baixo depois de sua passagem
neste estabelecimento.
Não é uma película leve, é um filme doloroso.
Por quê?
Porque é de nós
que fala, da sociedade de hoje, cheia de violência, da sociedade de consumo, da
sociedade no limit, da criança-rei abandonada
aos seus impulsos mais viscerais, da civilização
ocidental desprovida de toda forma de civilidade básica ... Este
filme nos diz claramente, inequivocamente, da imagem da brutalidade
contemporânea, uma época infame, ainda falocrática, do consumismo, pornográfica,
feia sob muitos aspectos. O desvinculamento, o diostanciamento é o que resta como
o último recurso ao professor, que não tem muito a ensinar a seus alunos quase
analfabetos, grosseiros, mesmo selvagens, nem aos seus pais. Na verdade, estes
últimos realmente abandonaram o mundo institucional, o dever que antes os
obrigava a educar e a não abandonar sua prole. Exatamente, é esta a nossa
realidade triste e decepcionante de que fala este filme. Os pais, lá como aqui,
se eximem do seu dever. As conseqüências estão aí em nossas salas de aula, na
rua, na política, em todos os lugares.
Porque a
consciência, o conhecimento, a noção às
vezes podem preencher o vazio da existência ... Vocês devem ver este belo
filme, tão justo, tão modesto em sua crua honestidade.
Acho que este
filme nos afeta a todos. Há muitas coisas
em jogo. Mesmo concordando com o
professor Henry Barthes / Adrien Brody, tenho certeza que ele poderia fazer melhor.
Esta é uma dificuldade que certas pessoas têm de beijar, de abraçar as pessoas
que precisam. Com certeza não é em todos
os casos, não, não. Em outros, você deve ser firme, enérgico, até inflexível para manter a ordem e o respeito.
Nossa época
não valoriza mais a educação, desprezam a autoridade, riem do governo, zombam
do formalismo. É difícil ser professor em algumas comunidades.
No entanto,
não desista!
Não, de
jeito nenhum, por quê?
Porque esta
é a nossa missão. Formar, educar, ajudar, escutar, estar atento.
Mas, Angela,
e suas famílias? Infelizmente, vejo mais e mais afastamento, pais que não estão nem aí. Muito
triste. Simplesmente, a maioria não sabe o que está acontecendo com seus
filhos. Eles se esquecem que ser pai e
mãe é para toda a vida! Dá trabalho ? Dá, é claro. Educar dá trabalho. Mas, que
magnífico trabalho ! É para isso que estamos aqui. Quando se está com um filho
ou uma filha, conversando, orientando, escutando, vou repetir, escutando, nos
sentimos finalmente bem. Nem todas as pessoas deveriam ser pais e mães.
Infelizmente é a verdade !! Deveria haver um longo e difícil processo pelo qual
as pessoas interessadas deveriam passar para serem finalmente aptas a pôr
filhos no mundo. Pensem bem se não tenho razão. Quantas e quantas pessoas
conhecemos que não têm NENHUMA
qualidade para ser chamado de pai e mãe. E nós, quando observarmos que há um aluno
que precisa de uma palavra, de uma escuta atenta, devemos fazê-lo!
É solitária a vida do prof. É, sim.
Mesmo quando
conversamos com os colegas (infelizmente, muito poucos) que pensam como o
personagem principal: deve-se como
professor fazer a diferença.
E quando
isso não acontece, é a frustração completa. É duro demais.
É um filme
rico em discussões. Poderíamos ficar aqui por horas falando sobre
-A jovem
prostituta,
-A menina
que ouve horrores em casa de seu pai e de seus colegas na sala de aula (o
professor tenta ajudar, mas faz pouco, ele não pode imaginar sua imensa tristeza.
Observem
bem o que
lhes digo: a falta que faz um abraço ! Este gesto tão simples e tão expressivo,
tão eloqüente, Barthes rejeita o abraço
da menina por medo, talvez alguém poderia
pensar mal se o visse com a pobre menina).
-O professor
de música que é invisível, não só na sala de aula (que tortura), é também em
casa (tristemente chocante).
- O avô de
Barthes é sua única família e morre aos poucos no hospital. Há um segredo muito
triste e repugnante, este avô que é realmente seu pai ...ai ai ai ... sua mãe
comete suicídio ... a porta do quarto de Henry deve estar sempre fechada à
noite ...
O título do
filme pode ser explicado de várias maneiras. O primeiro significado, que ele está
substituindo, é verdade. No entanto, sabemos que o que o professor quer é não
mais estar ligado a alguém na vida, ele não quer um sentimento mais duradouro. As duas pessoas
(mãe e avô ) que ele amava na sua vida o decepcionaram profundamente. Por isso,
nunca mais afeto, amizade, amor, apego intimidade, nem sentimento de ternura
para com alguém.
Podemos
considerar esta atitude de Barthes egoísta,
individualista. Mas acho que não devemos julgar ninguém.
Felizmente, o
final nos dá esperança. Graças a Deus.
Este trecho
do conto de Edgar Allan Poe, A Queda da Casa Usher, lido por Henry como um
exemplo da pressão que se deve
suportar todos os dias : "Pendant toute la journée
d’automne, journée fuligineuse,
sombre et muette, où les nuages
pesaient lourd et bas dans
le ciel, j’avais traversé seul et à
cheval une étendue de
pays singulièrement lugubre et,
enfin, comme les ombres
du soir approchaient, je me trouvai
en vue de la
mélancolique Maison Usher. Je ne sais
comment cela se
fit, mais, au
premier coup d’oeil que je jetai sur le
bâtiment, un
sentiment d’insupportable tristesse pénétra
mon âme. "
Nosso filme
começa com esta frase de Albert Camus em O
Estrangeiro: «Jamais je n’ai senti, si
avant, à la fois mon détachement de moi-même et ma présence au monde »
Como vocês
podem ver, quando um filme estrangeiro começa com Camus, você pode vê-lo
sabendo que vai ver algo de bom.
Há alegria em
compartilhar bons filmes. Especialmente, especialmente compartilhar com vocês,
meus amigos!
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