terça-feira, 13 de agosto de 2013

Duas mulheres especiais sob a banalidade do mal

Duas mulheres, vidas diferentes, mesma impotência, forças desiguais, mulheres do seu tempo.
Uma , francesa, nasceu em 1864 e morreu em 1943. A outra, alemã, nasceu em 1906 e morreu em 1975.
A primeira viveu mais 10 anos que a segunda. Mas, não conta. É como se não houvesse vivido os últimos 30 anos de sua vida que poderia ter sido bem diferente se houvesse solidariedade, amor, cumplicidade, reconhecimento. E antidepressivo. A outra, apesar de infância e adolescência sofridas, teve amores correspondidos. Foi reconhecida. Teórica política alemã, criou uma expressão que se coaduna com o tristíssimo destino da primeira, a francesa que dizia:« Je réclame la liberté à grand cri »
A expressão "Banalidade do Mal" que Hannah, assim se chama nossa alemã, criou para indicar que alguns indivíduos agem dentro das regras do sistema a que pertencem sem racionalizar sobre seus atos. Eles não se preocupam com as conseqüências destes. A tortura, a execução de seres humanos ou a prática de atos do "mal" não são racionalizados em seu resultado final, desde que as ordens para executá-los advenham de estâncias superiores. Estância estas que podem ser o chefe, o general ou os pais.
Hannah Arendt fala sobre a complexidade da natureza humana e alerta que é necessário estar sempre atento para o que chamou de "banalidade de atos do mal" e evitar a sua ocorrência.
Hoje a frase é utilizada com significação universal para descrever o comportamento de alguns personagens históricos que cometeram atos de extrema crueldade e sem nenhuma compaixão para com outros seres humanos, e que em suas vidas pregressas não foram encontrados traços de traumas ou quaisquer desvios de personalidade que justificassem os seus atos. Em resumo: eles eram "pessoas normais".
Pois é, queridos, entre estas pessoas normais ( ??!! ), temos o escritor e diplomata francês Paul Claudel, o irmão caçula da nossa francesa, Camille é o seu nome. Camille Claudel. A grande escultora. Não teve amor correspondido. Não, não teve esta felicidade. Apenas do seu pai, Louis-Prosper Vivenne Claudel. Enquanto vivo, Camille se sentia segura. Auguste Rodin, o igualmente importante escultor, foi seu professor e amante.15 anos. Sim, durante todos estes anos, eles terão um relacionamento bem tumultuado. Em 1883, Auguste Rodin tem 43 anos, Rose Beuret ( sua companheira) 39 anos e Camille apenas 19.
Rodin, nasceu no mesmo ano que a perversa mãe de Camille Claudel.
Depois de um aborto e a presumida ruptura, nossa Camille descompensa. Vai morar no 19, Quai de Bourbon ( fiquei na porta esperando que alguém saísse para eu entrar, mas foi difícil, infelizmente, pois esta personagem sempre me fascinou), ainda produz durante pouco tempo mas não "segurou" pois não teve apoio de ninguém de sua família depois que o pai se foi. Seu irmão, que se dizia católico, que se acreditava quase um santo !!, foi extremamente detestável e mau-caráter. o que corrobora a "banalidade do mal" da Hanna Arendt.
 Camille morreu em 1943. E não de velhice nem de loucura, mas de desnutrição (que era galopante em hospitais psiquiátricos sob a ocupação) e também pelo abandono em que a deixou sua família,na pessoa de seu irmão Paul. Este desprezível senhor, apesar da aflição dos médicos para que trouxesse suplementos nutricionais que provavelmente a  teriam salvo, nada fez. Ela morreu no dia 19 de outubro de 1943 de um acidente vascular cerebral apoplético, provavelmente devido à desnutrição com a idade de 79 anos. Foi enterrada alguns dias mais tarde, no cemitério de Avignon,  e os seus restos mortais foram transferidos para uma vala comum, seu corpo não foi reclamado por parentes.
Camille Claudel, uma mulher livre, uma artista livre, uma apaixonada, uma rebelde, perturbadora para a boa sociedade burguesa que finalmente a destruiu.
Os adjetivos usados acima poderiam igualmente caracterizar a importante teórica alemã Hannah Arendt. Com exceção , bien sûr, da última parte. Outra época, mais estudo, mais amor, boa alimentação.

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